1 de julho de 2011

Cuidando da infância


Observa-se que muitos fatores envolvidos na causalidade da depressão têm suas bases na infância.
A construção da auto-estima, da forma de se relacionar, da visão de mundo, enfim, da personalidade, se dá desde muito cedo na relação entre a criança e as pessoas que se ocupam de seus cuidados. Com base em teorias da personalidade, acredita-se que o período compreendido entre 0 e 7 anos de idade seja de grande influência na estruturação de padrões de comportamento que acompanharão a pessoa ao longo da vida. Assim, faz-se necessário que aqueles que se dedicam aos cuidados da infância, seja no ambiente familiar ou educacional, preocupem-se com o tipo de vínculo afetivo que está sendo construído.
A criança aprende sobre ela e sobre a vida através de informações que capta de outras pessoas e que processa em suas vivências afetivas e cognitivas. Partindo do que falam sobre ela e de simples reações à sua presença, a criança vai descobrindo quem ela é, isto é, vai construindo sua auto-imagem. Diz-se que os adultos funcionam como espelhos para a criança.
Muitas crianças crescem escutando que são burras, incapazes, incompetentes, teimosas, chatas, inconvenientes e um peso na vida das pessoas, ou que são inteligentes, perseverantes, criativas, agradáveis, capazes, indispensáveis e amadas. Sejam as informações incorporadas positivas ou negativas, a criança tende a agir de acordo com a imagem que forma de si. Essas impressões ajudam a compor a identidade da pessoa e tornam-se de difícil mudança na vida adulta.
Outro ponto importante na construção da identidade são os modelos introjetados na convivência com os adultos. No decorrer do desenvolvimento, a criança vai internalizando padrões de comportamento, espelhando-se nas pessoas que a cercam. Entre os modelos de identificação, que podem futuramente servir de base para a depressão, estão o perfeccionismo e a intolerância, revelando um alto nível de crítica e exigência, o pessimismo, o sentimento de inferioridade, a submissão, a dificuldade de expressar a raiva, a auto-depreciação e a postura ilusória e arrogante de auto-suficiência.
O jeito como uma criança é tratada também exerce influência na construção de sua auto-estima, sendo esta o sentimento que uma pessoa tem de ser amada, útil, aceita, de ter algo de bom em si para oferecer ou não. Trata-se do valor que a pessoa se atribui, do quanto ela se ama e se aceita. Por exemplo, percebe-se que as crianças se esforçam para agradar sempre os pais e não decepcioná-los, tentando preservar a atenção e o carinho deles. Essa situação auxilia o desenvolvimento infantil, mas pode ser um problema quando o nível de intolerância e exigência dos adultos é elevado, esperando da criança comportamentos destoantes daqueles esperados em sua faixa etária. Tal exigência é observada em pequenas situações no dia-a-dia como não colorir fora dos contornos do desenho, fazer uma letra bonita, não derramar suco na mesa, não se sujar, entre outras que vêm sempre acompanhadas de comentários infelizes do tipo: “Não é possível, você não aprende nunca?!”; “Quantas vezes tenho que te explicar a mesma coisa?!”; “Eu não esperava esse comportamento de você!”. Quando isso ocorre, sentimentos de culpa, inadequação, incapacidade, rejeição e fracasso tomam conta da criança, comprometendo sua auto-imagem e sua auto-estima. Assim, vai se tornando cada vez mais intolerante consigo mesma e com os outros e, ao longo da vida, sua postura rígida e perfeccionista lhe trará perturbações em forma de culpa e, conseqüentemente, depressão.
Para se ter adultos com uma boa auto-estima, é preciso mostrar às crianças o valor que elas têm. E não basta amar, é necessário que a criança se sinta amada. Por isso, é importante demonstrar o amor, falar desse amor, abraçar, fazer carinho, ressaltar suas qualidades internas e ser paciente com seu processo de aprendizagem, uma vez que todo ser humano é aprendiz do viver.

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