1 de julho de 2011

A raiva como base da Depressão

             Uma dos fatores emocionais mais observados nos casos de depressão é a dificuldade que a pessoa encontra para lidar com a própria raiva.
            Inerente à condição humana, a raiva decorre das inúmeras e inevitáveis situações de frustração impostas pela vida desde o nascimento. De forma saudável, a educação e os bons vínculos afetivos vão lentamente conduzindo a criança ao amadurecimento emocional, de forma a torná-la mais tolerante e bem adaptada.
            De uma pessoa emocionalmente madura espera-se a capacidade de renunciar, substituir, aguardar, compreender e se expressar. Trata-se da possibilidade de tolerar situações indesejáveis, e de não guardar para si a raiva experimentada, podendo manifestar seu descontentamento. Tal condição começa a ser estruturada desde cedo quando o bebê, que é naturalmente intolerante às frustrações, se irrita por sentir fome, frio, dor e outras sensações desconfortáveis. Caso ele encontre, no momento da raiva, alguém que o acolha e cuide, restabelecendo uma condição de conforto, vai aprendendo que o mundo pode agüentar sua agressividade e que as dores são passageiras e suportáveis, desenvolvendo assim a capacidade de tolerar os momentos desagradáveis.
No entanto, o bebê pode vivenciar situações em que sua raiva não encontra o acolhimento necessário ou a ação do amor firme que é capaz de construir bons limites e um ego forte. Desta forma, a criança não desenvolve uma boa condição de tolerância, tendendo a comportamentos agressivos e imaturos, ficando mais propensa a desenvolver conflitos emocionais, entre eles a depressão.
Entre as abordagens que colocam a raiva como uma das causas do transtorno depressivo, destacam-se a psicanálise e a bioenergética.
Na visão psicanalítica, as perdas podem ser sucedidas pela raiva da pessoa em relação ao “objeto” perdido, sendo que esta raiva pode se voltar contra a própria pessoa na forma de depressão.
Outra explicação da psicanálise, que liga a raiva à depressão, é o sentimento de culpa gerado pela existência de sentimentos ambivalentes, de amor e ódio, em relação a alguém. A sensação de nutrir sentimentos e/ou comportamentos de hostilidade por alguém que se ama ou de ter lhe decepcionado provoca um estado de culpa, que está carregado de raiva da pessoa contra si mesma, resultando em baixa auto-estima.
No entendimento da abordagem psico-corporal ou bioenergética, quando a expressão da raiva é inibida, provoca-se um estado de tensão em diversos grupos musculares e a repetição desta inibição ao longo do processo de desenvolvimento infantil tende a produzir uma tensão muscular crônica que resulta em bloqueio do fluxo da energia corporal, rebaixamento da expressividade e comprometimento respiratório, desvitalizando o corpo e a mente, culminando na depressão.
A relevância da raiva na constituição dos quadros depressivos fica ainda mais evidente quando se observa as principais causas psicológicas deste transtorno de humor: as perdas, as cognições negativas e a culpa. As perdas geram frustração, que por sua vez geram raiva. As cognições negativas são construídas também com base em vivências frustrantes que resultam em raiva. Já a culpa revela raiva da pessoa por si mesma. Assim, fica ainda mais clara a participação deste sentimento nas causas psicológicas da depressão, sugerindo que as intervenções psicoterápicas devem sempre incluir o desenvolvimento da tolerância, o extravasamento adequado da raiva (esporte, conversa, exercícios de expressão, ...) e o direcionamento da agressividade para o crescimento pessoal.

Um comentário:

  1. Além de aprender a lidar com a raiva, sinto que é importante a pessoa desenvolver recursos que evitem o surgimento dela: humildade, paciência, resignação, empatia ...
    Abraços!

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